È importante registrar que o surgimento dos arraiais, palavra que em portugal significa ajuntamento de pessoas com um fim religioso, aconteceram quase que simulataneamente em plena corrido do ouro. Nova Lima por exemplo, enquanto eram erguidos os ranchos improvisados de Congonhas do Campo, o mesmo acontecia com Santa Rita, Morro Velho, São Sebastião de Águas Claras e Rio de Peixe, locais que hoje juntos formam o município de Nova Lima. A falta de uma organização político administrativa para a época colaborava para esta situação.
A exploração aurífera, durante toda a metade do século XVIII, não contou com técnicas apuradas, limitando-se a chamada exploração aluvional, ou seja, a extração do ouro encontrado na superfície da terra e no leito dos rios. Os sistemas empregados eram o uso da bateia, para a retirada do ouro dos rios e riachos, e a lavagem do minério nos flancos dos morros. A mão-de-obra básica utilizada era a dos escravos africanos, havendo também muitos garimpeiros llivres que trabalhavam por sua própria conta.
Para melhor compreendermos a gênese mineira, vamos falar um pouco mais sobre os bandeirantes, personagens importantes nos primordios de nova Lima e Minas Gerais.
Altivos, imponentes, longas botas, chapéu e armas vistosas. Esqueça a imagem típica dos bandeirantes difundida pelos livros didáticos. A realidade era bem outra: as tropas caminhavam descalças por extensos territórios, sujeitas a todo tipo de desconforto, à mercê de ataque de índios e animais, fustigadas pela fome.
Antes de virar herói - invenção da elite no início da República, para enaltecer a capacidade de liderança dos paulistas -, o bandeirante foi o protagonista de uma colonização árdua e violenta, que durante mais de dois séculos desenvolveu uma cultura prórpria, bem distante dos padrões europeus.
Desde o século XVI até as primeiras décadas do XVIII, expedições partiram em busca de metais preciosos e de índios para serem vendidos como escravos nas plantações que abasteciam a Colônia. Essas incursões ganharam o nome de "bandeiras" - possívelmente por causa do costume tupiniquim de levantar uma bandeira em sinal de guerra ou a condução de uma bandeira de um santo de devoção do sertanista.
Conhecimentos herdados pelos mamelucos eram cruciais para a sobrevivência no sertão: orientação e observação dos movimentos do sol, dos astros e dos rastros, técnicas de caça e pesca, construção de embarcações e mareagem pelos rios, sistemas de comunicação e da sinalização em gravetos, além da classificação da flora e da fauna, fundamental para a seleção de alimentos, bebidas e medicamentos.
Os bandeirantes utilizavam vários tipos de armas: espadas, adagas, lanças, facas, terçados e alfanjes, além das de fogo (espingardas, bacamartes, mosquetes, arcabuzes, pistolas e escopetas).
Suas condições de vida eram precárias. Os mantimentos eram apenas cabaças de sal e pães de "farinha de guerra", feitos de mandioca ou de milho. Completavam seu sustento por meio da caça e da pesca, e incorporavam ao cardápio alimentos improvisados: frutas silvestres, pinhão, raízes, tubérculos, palmitos, mel-de-pau, ovos de jabuti e os "paus de digestão", ou seja, grelos de samambaia e suas variações.
Apesar disso, a fome era quase sempre uma companheira de viagem.
Animais selvagens e peçonhentos causavam sérios estragos nas tropas. Jararacas, cascavéis, corais e sucuris infundiam verdadeiro horror aos sertanistas. A onça pintada (jaguar) e a onça parda (suçuarana) atacavam viajantes inexperientes, que se descuidavam pelos caminhos do sertão. O maior martírio entretanto, era resistir às investidas dos mosquitos, responsáveis por incontáveis noitess de insônia. Bichos-de-pé, formigas e carrapatos infestavam o cotidiano dos bandeirantes.
Eram estes sertanistas que enfrentavam os problemas acima descritos que povoaram a futura Minas Gerais, geralmente acompanhados de índios escravos, mamelucos e no caso específico da futura Nova Lima de mamelucos e negros africanos escravizados.
O leitor poderá imaginar o que impulsionava estes sertanistas a tais aventuras recheadas de perigo. Se tivessem uma vida tranquila na Vila de origem será que deixariam tudo para trás em troca da aventura e do sonho de um enriquecimento fácil? Se bem que São Paulo naquela época ainda não passava de uma vila com quase duas mil pessoas. Todo este sortilégio de pegiros em expedições que levavam meses, anos, embruteciam os bandeirantes.
A formação da Irmandade das Almas de Nossa Senhora do Pilar, fundada por portugueses e que prosperou ao contrário da primeira igreja, a de Nosso Senhor do Bonfim, erguida por paulistas que não foi para frente. Do pouso original nascia uma espécie de fazenda que nada mais era que ranchos improvisados, cuja importância como centro civilizador foi notável. O próprio garimpeiro era o artesão que fazia o mobiliário rústico, incluindo-se entre as peças mais urgentes a cruz que erguida servia de agradecimento ao santo protetor, uma vez que mais hoje, mais amanhã em sua frente seria erguida de taipa a primeira capela. embrião de um arraial, vila, cidade que surgiriam em torno dela.
Teria sido assim que Congonhas do Campo, futura Nova Lima, teria surgido.
Os aspectos culturais que sobressaíram nos primórdios de Nova Lima, dizem respeito sobretudo à lingua, forma de habitação e mobiliário, culinária, transporte, artesanato, religião, vestuário e lazer. Quando cito nos primórdios é porque a cultura de nova-limense passou por constantes transformações na mesma proporção do caráter de semi-flutuação de sua população.
Até 1725, a Irmandade das Almas de Nossa Senhora do Pilar começava a construção da Igreja de Nossa Senhora do Pilar, havendo também entre os escravos uma irmandade própria com o fim de mantê-los diciplinados que culminou com o início da construção da igreja de Nossa Senhora do Rosário tambem ao mesmo tempo. A questão é que os escravos só tinham a permissão de construíla aos domingos, que era o dia de folga e eles tranportavam pesadas pedras nos ombros ou em carros de boi para eregirem o tempo em sitema de construção conhecido na época como "sistema de pedra seca" em que as pedras eram talhadas e encaixadas umas sobre as outras sem a utilização de qualquer tipo de massa de liga como o adobe por exemplo. Dizem que esta edificação levou 100 anos para ficar pronta.
As técnicas precárias de exploração do ouro, a pesada carga tributária imposta pela Coroa Portuguesa e os consideráveis níveis de contrabando, fazia com que Congonhas do Campo se tornasse cada vez mais pobre, ao mesmo tempo em que se intensificava o controle metropolitano sobre a região.
Nos primeiros anos a mineração em Congonhas do Campo tinha lá o seu grande desenvolvimento no início do século XVIII ao fim deste, foi devido ao estado em que se achava o ouro nas jazidas. Não havia necessidade de processos especiais para obtê-lo, era só apanhá-lo nos cascalhos das baixadas ou nas areias dos ribeirões. Com a mais simples aparelhagem fez-se a mineração naquele século. Era uma verdadeira catagem, que só necessitava o braço humano sem jeito especial ou inteligência amestrada. Quando foi necessário construir galerias, atacar a rocha matriz ou lavar terras de baixo teor, declinou logo a mineração em Congonhas do Campo.
Não possuindo meios de aprofundar a exploração, a população mineradora foi, aos poucos, a partir da segunda metade do século XVIII, abandonando as minas e passando a se dedicar mais intensamente a outras atividades econômicas, como a agricultura e o comércio, acentuando a decadência da produção aurífera. No caso da futura Nova Lima então a geografia montanhosa não favorecia a prática da agricultura e por consequência o comércio também não prosperava. Por esta época, já conhecida como Congonhas das Minas de Ouro parecia que iria perecer como arraial. Muitos administradores enviados por Portugal à região tentaram chamar a atenção da Coroa para o problema não só de nossa região como o mesmo acontecia no restante das Minas Gerais, pedindo inclusive, o envio de técnicos estrangeiros especializados, a fim de recuperar a produção.