Em relatório do Serviço Secreto do Ministério da Justiça trazido aos autos da devassa de 1964, estão registrados acontecimentos muito anteriores, tendo os mineiros de Nova Lima como importantes protagonistas, como a greve de 48 /49, em que 51 operários da Mina de Morro Velho foram sumariamente demitidos. - Eram líderes comunistas muito perigosos, - retrata o Serviço Secreto.
A demissão desses mineiros foi um tiro pela culatra, revela o documento, porque o comitê estadual dos comunistas utilizou os desocupados, dando-lhes tarefas em todo estado. Muitos passaram a ter uma ajuda financeira do Sindicato dos Mineiros depois que o respeitado chefe comunista Armando Ziler, residente em Belo Horizonte, atuante e operacional, distribuiu os chamados 51 para tarefas estratégicas. Assim, o movimento comunista tomou corpo com a dedicação exclusiva dos demitidos. Na verdade não eram todos comunistas, muito menos, capazes da execução das tarefas desejadas. Todavia, ali estavam alguns engajados.
No meio dos comunistas, no início da década de 50, um jovem, filho de trabalhador de Nova Lima, tendo estudado na capital, voltou à cidade criando verdadeira cizânia. Andou lendo alguma coisa sobre a revolução russa de 1917 e tornou-se trotsksta. Tomou-se de forte aversão a Stalin e afirmava em todas as rodas, para escárnio dos históricos, que o comunismo soviético se havia perdido no stalinismo. Que Leon Trotsky fora exilado no México e, em seguida, morto pelo serviço de inteligência de Stalin, a mando deste. O jovem Pedrito estava encantado com com a Internacional Socialista e com a liderança de Trotsky, o verdadeiro marxista da história. Promovia debates com os mineiros, agitava a cidade e causava grande confusão. Jovem, inteligente e radical se achava o dono da verdade.
Clésio, seu tio, entendeu de fazer um movimento para expulsar pedrito da cidade. Ele estava criando confusão na cabeça dos trabalhadores. Não era hora para isso. Foi um Deus nos acuda, porque o jovem já havia conquistado alguns adeptos para suas teses. Eles eram mais radicais contra o stalinismo do que contra os adversários históricos do comunismo, os burgueses de toda ordem. Queriam colocar os pingos nos "ii", quando ainda não havia "ii" para receber pingos. Desiludidos com o reacionarismo dos operários, Pedrito voltou a Belo Horizonte, se meteu com atividades violentas depois de 64, foi preso e desaparecido.
Clésio, em certa ocasião, disse: - Foi uma pena, ele era o mais inteligente de nossa família. Seu pai deu muito duro para sustentá-lo em Belo Horizonte para estudar.
Na realidade muitos dos mineiros não eram comunistas, não tinham grandes ilusões com o socialismo real do comunismo russo. Na verdade havia muita dificuldade na convivência com alguns comunistas, poucos que lá existiam. Discordavam-se internamente no Sindicato, mas não podiam negar que estavam no mesmo barco contra a exploração imperialista. Dazinho, Juvenal, Felix, Vicente Faria, Aloysio, junto com os mineiros eram muito atuantes e a ligação deles maior era com a Igreja Católica no seu trabalho de base. Sabiam que mais adiante iam ter o enfrentamento com os comunistas. No entanto, aquela era hora de juntar forças, mesmo sabendo do risco que estavam correndo. Não podiam prever que o império russo fosse ruir tão rápido. Realmente esta mistura com os comunistas causava preocupações. E, se isto ocorria entre eles, imagine o que passava pela cabeça dos reacionários defensores do "status quo"?
Com golpe militar ou sem ele o mundo ia mudar, o Brasil ia mudar. O fim da bipolarização, com o fracasso russo e a desintegração da União Soviética, trouxe novas perspectivas. A conquista do socialismo é lenta e vai por outros caminhos. É uma longa história de avanços e retrocessos. O sonho de uma sociedade mais justa e igualitária é a seiva que alimentava os mineiros. Não tinham consciência de que eram tão fracos em Nova Lima e no Brasil. Mas, fica a dura indagalção, seria melhor a continuação e desmandos do Governo João Goulart? Aquela crença na viabilidade da expansão soviética? Eram essas algumas das duras perguntas de muitos mineiros radicais, que só o tempo responderá.